As margens contra o rio


Por Cléber Sérgio de Seixas

Neste dia histórico, em que se desenrolou a maior greve geral de todos os tempos no país, a grande mídia - Rede Globo na vanguarda - cumpriu mais uma vez seu papel de aliada do patronato e do grande capital ao menosprezar o movimento ou pautá-lo sob uma ótica negativa, realçando apenas seus impactos negativos no cotidiano. Já era esperado que o expediente midiático tentaria, num primeiro momento, ignorar as manifestações e, num segundo, deslegitimá-las como violentas e circunscritas ao mundo sindical. 

A dimensão das manifestações deste 28 de abril, com intensa adesão de trabalhadores de várias categorias, estudantes e religiosos, no entanto, demonstra que não se tratou apenas de sindicalistas e servidores públicos nas ruas. 

A estratégia midiática é evidenciar a forma para esvaziar o conteúdo. O destaque dado a congestionamentos de trânsito, estabelecimentos comerciais fechados, trabalhadores queixosos por não conseguirem chegar a seus locais de trabalho em função das manifestações, a cobertura de atos isolados de violência de forma a parecer algo generalizado, etc, em prejuízo de informar o que motivou o movimento, revela que a grande mídia nativa aderiu ao que tem sido chamado de pós-verdade. Divulgações de imagens de ônibus incendiados, de obstruções de vias públicas e de confrontos entre policiais e manifestantes visam moldar a opinião pública com apelos ao senso comum de que greve é coisa de gente desocupada e baderneira. Apela-se à emoção enquanto as questões objetivas e de fundo vão para debaixo do tapete.

Violência gera violência e da física newtoniana vem a constatação de que a toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade porém em sentido contrário. As primeiras agressões partiram do Governo Federal e do Congresso na forma da PEC do Teto de Gastos, da Lei da Terceirização e das propostas de reformas trabalhista e da Previdência, verdadeiros atentados a direitos sociais arduamente conquistados. Assim sendo, é razoável que os trabalhadores esbocem uma reação, e a greve de hoje foi uma amostra. Outras podem vir caso o Executivo, o Legislativo e o Judiciário nacionais prossigam dilapidando conquistas históricas dos trabalhadores contidas na CLT e na Constituição de 1988. 

Parafraseando Brecht, o rio só é violento porque suas margens o comprimem. As greves, as paralisações, os confrontos, as depredações são as ferramentas que sobram aos trabalhadores quando todas as outras vias lhes são bloqueadas. A elas só apelam quando nenhum outro caminho pacífico lhes resta. E a violência, ensinava outro alemão, dessa vez Marx, é a parteira da História. O que virá à luz no Brasil no pós 28 de abril de 2017 será qualquer coisa, menos uma criança passiva e calada.

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