A imprensa livre para se calar

Por Jeferson Malaguti Soares *

Estados Unidos e União Europeia controlam 90% da informação do planeta. Das 300 principais agencias noticiosas de imprensa, 144 têm sua sede nos EUA, 80 na Europa e 49 no Japão. Os países pobres e os em desenvolvimento, onde vivem 75% da humanidade, possuem apenas 30% dos jornais do mundo.
Outro dado importante: os EUA têm 5% da população do planeta, mas detém 50% de todo o seu aparato militar. 

Não faltam denúncias sobre a natureza e extensão do terrorismo de Estado que desde há muitas décadas faz estragos pelo mundo, um terrorismo instado no âmbito da política adotada na Casa Branca. 
Os grandes meios de comunicação não são apenas cúmplices do terrorismo de Estado que EUA e seus aliados de primeira hora – Reino Unido, Israel, França e Alemanha – praticam, fazem parte dele. O silêncio da mídia é também uma forma de terrorismo. 

Como acontece por aqui, a imprensa é livre para se calar sobre as mazelas da direita. Livres para deitarem falação sobre a Ação Penal 470, apelidada de “mensalão”. Todos sabem que não existiu mensalão, mas o filão encontrado caiu sobre medida para os falastrões de plantão. Calam-se, no entanto, sobre o mesmo assunto protagonizado pelo PSDB de Minas. Será que a mídia nativa vai ter coragem de se referir a Eduardo Azeredo, ex-governador tucano, como “mensaleiro” ? Certamente que não. Aí está a liberdade para se calar. 


A mídia deleita-se na pobreza intelectual, o que diz muito sobre a sua relação com a ética jornalística e sua “missão informativa”.  A ligeireza da informação é sintomaticamente diferente a depender dos temas em pauta.

Certo é que não existe imprensa livre nem independente por aqui. Todos sabem disto. Nenhum jornalista se atreve a escrever sua opinião honestamente e sabe tão bem como nós que, se o fizer, ela não será publicada. Os jornalistas recebem um salário para que não publiquem nem externem suas opiniões, sob pena de serem demitidos.  O trabalho da imprensa no Brasil visa a destruição da verdade, é voltada para a mentira, para factóides, corrupção dos fatos, a serviço do neoliberalismo, da burguesia, dos ricos e poderosos. O talento de nossos jornalistas pertence aos donos da mídia.

Para ilustrar tudo isto, um fato muito importante. Eason Jordan, diretor de jornalismo da CNN, renunciou em 2005 logo após o Fórum de Davos. Jordan declarou na ocasião que, dos 63 jornalistas mortos no Iraque, em torno de 10  haviam sido vítimas de disparos deliberados das forças de ocupação norte-americanas. Os organizadores do fórum se negaram a tornar públicas as informações de Jordan. Com medo de morrer, Eason Jordan desautorizou logo em seguida a divulgação da gravação feita durante seu depoimento.  Procurem no Google. Os jornalistas mortos insistiam em transmitir a realidade sobre a ocupação criminosa do Iraque. 

Nossa imprensa prioriza a comunicação, não a informação. Prevalecem as mentiras oficiais, as verdades discretas e um cinismo imperturbável.


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor e colaborador deste blog.

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