A mídia que mente

 
Por Jeferson Malaguti Soares *

Para ser jornalista hoje no Brasil, trabalhando na grande mídia golpista, é necessária uma enorme falta de espírito crítico, além de absoluta subserviência e servilismo aos patrões.

Nossos jornalistas usam de eufemismos quando citam qualquer mau feito de tucanos e agregados.  É publico que não lhes compete suavizar a informação com palavras que pareçam mais agradáveis. A função do jornalista não é poupar o leitor e sim informá-lo corretamente. Suavizam quando o assunto diz respeito à oposição e exageram nos adjetivos que impliquem em juízo de valor quando o alvo é o PT. Mesmo quando de editoriais, deveriam saber nossos jornalistas que opiniões sustentadas em fatos são muito mais fortes do que as apenas adjetivadas. Como não têm fatos, adjetivam.

Vejam por exemplo o caso da ação penal 470 – adjetivada pela imprensa, pejorativamente, de “mensalão”. A Constituição da República garante que todos devem ser considerados inocentes até que sua culpa seja estabelecida pela justiça. Não foi isso que vimos. A todos os indiciados foi imputada culpabilidade antes mesmo de o processo ter inicio no Supremo. E, mesmo depois, quando não foram encontrados indícios dos tais pagamentos mensais, a acusação criminal se estabeleceu baseada na tal teoria do domínio do fato, cuja atabalhoada utilização pelo juiz Joaquim Barbosa no caso do "mensalão" foi condenada até por quem a criou, a saber, o jurista alemão Klaus Roxin. Ainda mais, a imprensa se sente no direito de exigir que os mandatos de parlamentares sejam cassados, mesmo sabendo que se trata de uma intromissão inconstitucional do Judiciário no Legislativo.

Noutro dia, um jornalista da Globo perguntou ao ministro Mantega, ao vivo, no Jornal Nacional, se ele acreditava na volta da inflação. Resposta de Mantega no ar: “Não acredito, mas TALVEZ possa acontecer com um índice insignificante”. Manchete do jornal O Globo no dia seguinte: "Ministro ADMITE a volta da inflação". Insinuação e manipulação dos fatos, características marcantes de nossa mídia hoje.

Outra forma de tentar confundir o leitor/telespectador/ouvinte é através do uso obsessivo da ambigüidade. Duplicidade de sentido de uma palavra ou expressão. Usam para tanto a ausência de vírgulas; posição inadequada de adjunto adverbial; sucessão inadequada de termos, orações ou frases; colocação do pronome “que” em posição que cause dúvida; abuso da preposição “de”. Exemplos: 1) “o governo federal vai aproveitar espaços públicos, como ruas e estacionamentos...”  Se a virgula não for usada dá a impressão que os espaços públicos serão transformados em ruas e estacionamentos. 2) Na legenda de uma foto de Lula com sua esposa: ”Lula e sua mulher Marise, com o pé quebrado, no Parlatório do Palácio do Planalto”. Sem o uso da segunda vírgula, poder-se-ia entender que a mulher de Lula quebrou o pé no Parlatório.  3) “...um protesto contra a impunidade e a lentidão da justiça”: a colocação de “impunidade” antes de “ lentidão da justiça” pode dar a entender que houve protesto contra a impunidade da justiça. Melhor seria escrever: “um protesto contra a lentidão da justiça e a impunidade. 4) “Dilma esqueceu o código de seu cartão de crédito que ela já cancelou”. Ela cancelou o cartão ou o código?

Outra forma de colocar a opinião pública contra o governo é omitindo informações. Exemplo: noticia de primeira página hoje (26/02) no jornal Estado de Minas: “Leão elevou arrecadação em 101% na última década”. Vejam que ficou claro que foi nesses últimos 10 anos que houve o aumento citado – exatamente o período dos governos federais do PT. Em nenhum momento o articulista citou que o acréscimo na arrecadação do Imposto de Renda foi também devido ao aumento na renda do trabalhador, à inclusão de mais de 35 milhões de pessoas na nova classe média, à redução de juros com ganhos de capital. Apenas deixou ao leitor a idéia de que os governos de Lula e Dilma aumentaram as taxas do IR via redução nas deduções para cálculo do imposto.

Da mesma forma, quando da análise de acontecimentos, gênero jornalístico que explora diversos aspectos de fatos relevantes e recentes, em especial seus antecedentes e conseqüências, o autor deve se abster de opinar. Deve apenas expor todos os fatos. Esse tipo de artigo é assinado sempre. Mas o que se vê é que os articulistas se esmeram em dar suas opiniões, sempre denegrindo a imagem do governo. Usam fatos até irrelevantes para tal.

Enfim, nossos jornalistas fingem desconhecer que a qualidade essencial do jornalismo é a exatidão. A credibilidade de um organismo de mídia depende da exatidão das informações que transmite e da fiel transcrição de declarações. O que vemos hoje é, antes de tudo, a invenção, o sofisma, a criação de factóides e a interpretação predatória das atividades do governo federal.

Como disse Proust: “cada um chama de claras as idéias que estão no mesmo grau de confusão que as suas próprias”.

Pobre mídia brasileira, até quando vai malhar em ferro frio? Até quando vai tentar esconder o Brasil dos brasileiros?


* Jeferson Malaguti Soares é membro da Executiva do PCdoB em Ribeirão das Neves/MG.

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