A esperança venceu o medo em Ribeirão das Neves

A candidata Daniela Corrêa (PT) com militantes do PCdoB durante o Grito dos Excluídos



Por Cléber Sérgio de Seixas *

Ribeirão das Neves/MG, 23 de agosto de 2012 – reunidos no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora das Neves estão dezenas de militantes dos partidos que disputam as eleições municipais. Ali também se encontram os cinco candidatos a prefeito para o primeiro debate envolvendo os aspirantes ao cargo. Gláucia Brandão (PSDB), Maria Rasgacena (PPL), Daniela Corrêa (PT), Marquinhos (PRB) e Ronaldo Sena (PSOL). Neste momento já se sabe que as eleições estão polarizadas entre Gláucia e Daniela.

Durante o debate, o clima entre os militantes é de hostilidade. As perguntas são direcionadas para os cinco candidatos, mas sempre que a candidata do PT tenta responder é interrompida por militantes tucanos mais exaltados. Pouco depois do início do debate um ônibus fretado chega ao local cheio de cabos eleitorais do PSDB. Ao começar a responder a uma pergunta sobre a Emenda 29, Daniela Corrêa passa a ser vaiada por militantes tucanos. Dalí em diante, não houve clima para o prosseguimento do evento e seus organizadores, membros do Sind-Saúde, Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Ribeirão das Neves, são obrigados a encerrar o evento.

Os ânimos, que já estavam exaltados, ficam ainda mais. Em uníssono, alguns tucanos gritam “uhu, mensalão!”. Enquanto a candidata petista deixa o local, escoltada por correligionários, não faltam ameaças de agressão. Há relatos de que um militante adversário, apontando para a candidata petista, teria dito a outro “cospe nela!”. Também se soube que um militante petista deteve um militante tucano que teria ameaçado agredir a candidata Daniela.

Desde o início da campanha em Ribeirão das Neves era sabido que o julgamento da Ação Penal 470 seria utilizado pelo PSDB local para minar as forças da campanha petista à prefeitura. De fato, os tucanos nevenses usaram e abusaram do marketing negativo proporcionado pela ação penal que ora é julgada pelo STF. Contudo, os efeitos deletérios do assim chamado “mensalão” sobre o PT não foram tão intensos em Ribeirão das Neves e, ao contrário do que esperavam os tucanos, Ribeirão das Neves elegeu sua primeira prefeita petista.  


Pesquisa do Instituto Data Tempo/CP2, publicada pelo Jornal OTEMPO em sua edição de 08/04/2012, apontava Daniela Corrêa (PT) com apenas 2,7% das intenções de voto, no melhor cenário, enquanto Gláucia Brandão (PSDB) era apontada com 40,1% dos votos no melhor cenário. Contudo, a mesma pesquisa, apontava Gláucia com a maior rejeição entre as candidaturas viáveis (7,4%). Sabedora de sua pouca notoriedade no município, bem como dos boatos sobre sua pessoa que então já circulavam pela cidade, tais como o que a apontava como não moradora de Ribeirão das Neves, Daniela iniciou uma campanha com os pés no chão, literalmente.

Caminhou por praticamente todos os bairros do município, sempre acompanhada de seu vice, Geraldo Lima (PTdoB), para se fazer conhecida.  Por todos os lugares por onde passava, Daniela era bem recebida pelas pessoas, e não tardou seu crescimento nas intenções de voto. O que explica tal acolhida a uma novata no cenário político de Ribeirão das Neves?Uma das respostas mais plausíveis passa pela atuação do Governo Federal.

Durante o governo Lula, Ribeirão das Neves foi contemplada com dezenas de investimentos federais que tornaram possíveis, por exemplo, a implantação do IFET (Instituto Federal de Educação Tecnológica), a construção do UPA Justinópolis e a pavimentação de várias vias através de recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Tanto que no evento de lançamento de sua campanha, a então candidata Daniela Corrêa contou que em uma de suas caminhadas foi parada por um trabalhador que lhe disse que “o melhor prefeito que Ribeirão das Neves já teve chama-se Luiz Inácio Lula da Silva”.

Outra situação que pode explicar a boa acolhida de Daniela pelo povo de Neves é o tratamento dispensado ao município pelo governo estadual. Dias depois de certificada a vitória de Antônio Anastasia (PSDB) a governador do Estado, a obra de duplicação da LMG 806, que até aquele momento estava “de vento em popa”, foi totalmente abandonada, deixando os munícipes de Ribeirão das Neves sujeitos ao tráfego numa rodovia cujos índices de acidentes são alarmantes. A duplicação da rodovia era um clamor do povo nevense há anos.

Outro descaso do governo do Estado em relação ao município se revela no fato de, na cidade, sob a gestão de Aécio/Anastasia, terem sido construídos mais dois presídios: o José Martinho Drumond, inaugurado em 2005, e o primeiro complexo prisional do Estado construído em regime de PPP (Parceria Público Privada), a ser inaugurado ainda este ano.

Apesar dos intensos protestos da sociedade civil nevense organizada em movimentos sociais, com destaque para a Rede Nós Amamos Neves, o rolo compressor do governo estadual implantará na cidade mais presídios, agravando, desta forma, ainda mais, a questão social daquele que é o município que abriga a maior população carcerária de Minas Gerais e um dos mais pobres do Estado.

Daniela foi eleita com 57,31% dos votos, contra 37,94% dados à sua maior adversária, a tucana Gláucia Brandão, numa campanha épica por parte da candidata do PT. Ela iniciará seu governo em 2013 com imensos desafios pela frente, mas tem a seu favor o apoio do Governo Federal.

Quando do lançamento de sua campanha, Daniela afirmou: "nós queremos o governo do Bolsa Família, nós queremos o governo do Minha Casa, Minha Vida, nós queremos um governo socialista, voltado para o povo, que procura minimizar as diferenças, que procura elevar os nossos índices de desenvolvimento humano". Esta afirmação sintetiza bem o modo petista de governar.

De fato, nas eleições municipais de 2012 em Ribeirão das Neves, digladiaram dois modelos quase antagônicos de governar. O modelo peessedebista de governar prima pelo enfraquecimento dos aparelhos estatais em prol do fortalecimento do mercado, a exemplo do que ocorrera nos oito anos da gestão de Fernando Henrique Cardoso. Durante a gestão tucana de FHC o Estado brasileiro foi dilapidado por desregulamentações, privatizações, fragilização das políticas públicas, falta de investimento em infraestrutura, subordinação da economia nacional ao capital estrangeiro e toda sorte de medidas liberalizantes à moda do Consenso de Washington.

Não é prerrogativa do estilo tucano administrar com preocupação com a questão social. Ao contrário, o PSDB prima pelo capital em detrimento do social. É ponto pacífico que a questão social brasileira agravou-se durante a gestão tucana, deixando de ser uma questão de políticas (públicas) para se tornar uma questão policial, como atestam episódios de triste memória como o Massacre de Eldorado dos Carajás e a desocupação da Comunidade Pinheirinho em São José dos Campos. Na prática, a social democracia do PSDB só existe embutida na sigla partidária.

O estilo petista de governar opõe-se quase diametralmente àquele do PSDB. Os governos Lula e Dilma apresentam características que vão do trabalhismo, passando pelo desenvolvimentismo, à social-democracia. O governo Lula alçou à classe média quase 40 milhões de brasileiros e elevou o consumo dos mesmos como poucos governos haviam feito anteriormente. Várias políticas públicas foram incrementadas e o maior programa de distribuição de renda do planeta, o Bolsa Família, garante a sobrevivência de muitos brasileiros pobres. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em suas versões 1 e 2, garante melhorias infraestruturais em todo o país. Além disso, sob a gestão Lula, o Brasil abandonou o alinhamento automático aos interesses de Washington e passou a ser respeitado na comunidade internacional. Quando os manifestantes portugueses saem às ruas contra os pacotes de maldades do neoliberalismo, não faltam aqueles que empunham cartazes pedindo que Portugal tenha seu Luís Inácio Lula da Silva.

Apesar do “mensalão”, o PT logrou vitória em Ribeirão das Neves. Aliás, no saldo final das eleições de 2012, o PT saiu-se melhor que os tucanos. Enquanto o PSDB conseguiu 13% a menos de prefeituras se comparado a 2008, o PT adquiriu 14% a mais.

Em 2002, em sua primeira entrevista após eleito, Lula disse: “a esperança venceu o medo e hoje eu posso dizer para vocês que o Brasil mudou sem medo de ser feliz”. Em Ribeirão das Neves, em 2012, como no Brasil em 2002, a esperança venceu o medo. 


* Cléber Sérgio de Seixas é Secretário de Formação e Propaganda no Diretório Municipal do PCdoB em Ribeirão das Neves.

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