Nossa mídia

Os jornalistas da grande mídia nacional permanecem como reféns do aquário

Por Jeferson Malaguti Soares *

Até quando nossos jornalistas vão aceitar passivamente as ordens de editores partidários e antiéticos? Quando vão lutar para ocupar seu lugar de dignos representantes da seriedade? São perguntas para as quais não encontro respostas em curto prazo.

A questão cultural no Brasil é também uma questão moral. A mídia está perdendo o bonde da História ao renegar o papel de propulsora da cultura nacional. Uma educação ruim gera bons telespectadores, péssimos eleitores e uma enxurrada de candidatos sem preparo. A imprensa tupiniquim tem desenvolvido uma capacidade ilimitada para exploração de temas sensacionalistas, especialmente ligados a Lula, Dilma e ao PT, na maioria dos casos inventados por ela. Atira-se com voracidade canina sobre todos os assuntos que possam gerar constrangimentos ao Governo. Artigos violentos, verborrágicos, audaciosos, facciosos.

Com certeza esse tipo de mídia nunca se coloca gratuitamente, de algum lado. Interesses escusos ditam-lhe o sentido. Hoje, vincula-se aos setores mais à direita, mais reacionários e entreguistas da política brasileira, e até se tornou seu porta-voz.



Como exemplo, afirmo que poucas figuras são tão nefastas à profissão de jornalista quanto os CIVITA. A revista editada por eles, a VEJA, é a mais arrojada nesse particular. Destaca-se no grupo dos bajuladores que cercam os neoliberais, burguesia de plantão. VEJA é tão odiosa quanto seus proprietários, tão reacionária e mercenária quanto eles.

Os Civita se esforçam para sair do grupo dos figurantes, galgando patamares mais sofisticados no universo midiático nacional, e chegar junto aos Frias, os Mesquitas e os Marinhos. Mas nunca passarão de coadjuvantes, nada inocentes úteis. Com entusiasmo sádico, o semanário dos Civita lança-se em ataques e invencionices irresponsáveis, quando não se une a bandidos no encalço de seus objetivos sórdidos e imundos, como atestam as investigações da CPI do Cachoeira.

Por outro lado, as relações da mídia com o poder são extremamente cínicas. Muda de direção quando lhe convém, obediente exclusivamente a seus interesses. Por sinal, aqui em Minas, esses interesses incluem a vassalagem à CEMIG e à COPASA, que rendem um bom dinheiro via propaganda oficial do Governo do Estado, supostamente em troca do silêncio sobre as mazelas e bizarrices deste. Acrescente-se aí o cinismo dos poderosos.

Outro grande equívoco da imprensa é o jornalismo hereditário. Não é passado de pai para filho apenas o patrimônio, mas, essencialmente, as idéias e o pragmatismo econômico-financeiro.

Nossa claudicante mídia clama por liberdade cada vez que é criticada. Ela se elegeu intocável. Mas quer, isto sim, liberdade para mentir, sofismar, inventar e criar factóides.

Os manuais de redação e edição são draconianos e impositivos. O alvo é sempre o governo social iniciado em 2003 no país. Esse é o alvo, mas quem é alvejado é o povo. Normas inflexíveis neste sentido não admitem nuances.

A questão da objetividade e da especialização jornalística é substituída de forma inconteste pela conduta repugnante dos editores que, no fim da linha, atinge a dignidade e o caráter dos jornalistas, manipulando até seus pensamentos, que há muito deixaram de ser críticos, para se tornarem coniventes. A grande mídia ainda permanece na "era de aquário" do jornalismo, ou seja, no estágio em que a independência dos jornalistas é castrada e substituída pelos ditames dos editores-chefes, confortavelmente instalados nas salas envidraçadas das grandes redações.

Gostaria de saber o que pensam as faculdades de jornalismo espalhadas pelo país. Como ensinar a profissão numa época em que “paparazzo” é sinônimo de jornalista e fofocas sociais sinônimo de jornalismo?


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Comunicação do PCdoB Ribeirão das Neves e colaborador deste blog.

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