O quarto poder

Os métodos da grande imprensa tupiniquim fariam o Cidadão kane corar de vergonha


Por Jeferson Malaguti Soares *


Temos ouvido que a mídia é o quarto poder da república. Ela vem tentando ocupar esse lugar, com algum sucesso. A força política da grande imprensa é muito grande, e os donos de jornais, revistas e canais de TV sabem como poucos usá-la em beneficio próprio. Roberto Marinho, por exemplo, foi um dos homens mais poderosos do Brasil, a partir do golpe militar de 64. Poucos políticos se negaram a atender seus pedidos e convites que, na verdade, eram imposições.

É público o fato de que a grande imprensa trabalha contra Lula, desde, principalmente, sua primeira candidatura à presidência, em 1989. Hoje, fazem o mesmo com a presidenta Dilma. Fica claro que as vitórias do PT não foram contra adversários políticos, foram contra a imprensa, que sempre esteve a serviço do capital e da burguesia (raras exceções como a revista Carta Capital, por exemplo, cuja postura é de independência e seriedade).

Como, então, implementar a formação política e cidadã das classes menos favorecidas, se o Estado é instado pela mídia a se vincular, exclusivamente,à defesa dos interesses da burguesia liberal?

Lula e Dilma estão conseguindo essa proeza e, por mais surpreendente, sem fugir do regime capitalista, sem tirar um centavo sequer dos ricos. Por que então essa frenética campanha contra os governos populares do PT? Por que o silêncio “ensurdecedor” frente às denúncias do livro A Privataria Tucana? Por que a falta de isenção da imprensa, que condena atos dos governos de Lula e Dilma e ignora os de governos anteriores, que sabidamente prejudicaram o erário e a soberania nacional? Jornalista que não tem autonomia para falar sobre política, tem credibilidade para discorrer sobre qualquer outro assunto? Não creio.

O que amedronta a mídia e a burguesia nacionais é o fato de Lula e Dilma se apresentarem por inteiro, sem dissimulações, mentiras ou máscaras. Transitam imperturbáveis diante do clima de radicalização da imprensa. Nada têm a esconder. São verdadeiros e falam a língua do povo. São herdeiros dos clamores populares de outrora, e quebraram os argumentos pobres das forças políticas oligárquicas que predominavam no Brasil até então. Essa mesma oligarquia que, ancorada pela mídia burguesa, nunca se deu conta da emergência das demandas sociais do nosso povo, preferindo se escudar nos argumentos intimidadores de uma falsa intelectualidade sacralizada no capitalismo liberal, esquecendo-se que tudo o que é geral, é social.

A mídia não aceita o povo no poder. Não aceita descer até o “populacho” – como adjetiva os menos favorecidos – para dialogar, ou para ouvi-lo. A arrogância, o orgulho e a discriminação são as características marcantes da burguesia neoliberal. O universo midiático nacional ignora que as opiniões sustentadas em fatos são muito mais fortes e confiáveis do que aquelas apenas adjetivadas.

O capitalismo liberal, ao qual a imprensa internacional está atrelada, e a nossa a reboque, pode ser muitas coisas, mas nunca, a meu ver, fonte de equilíbrio social ou de dignidade cidadã. Constata-se diariamente que o capitalismo é um modelo de atuação político econômico aético e hipócrita. No mesmo caminho transita nossa mídia.


* Jeferson Malaguti Soares é membro da Executiva do PCdoB em Ribeirão das Neves/MG e colaborador deste blog.
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