Memória



Por Cléber Sérgio de Seixas

Na boca o lamento da alma
No peito reside a tormenta
Calar-se, esquecer, quem aguenta
Se a memória atroz é quem clama?

Melhor o grito e a palavra dita
A manter o travo na garganta
O desabafo afasta a dor, que é tanta,
Que falar da dor é dor que já não fica

Querem emudecer os sofridos
Congelar, sufocar amarguras
Mas há chagas que o tempo não cura
Tantos foram os pesares vividos

Quem perdeu, quem chorou, não esquece
Quem sofreu, quem sangrou, não olvida
Do suplício e da dor mais profunda
Um pesar que não vai, não fenece

Tinha rosto e nome o algoz
Mas mantinha meu rosto encoberto
“Me tire o capuz, chegue mais perto,
Pra que eu o veja e ouça tua voz!”

D'um cadáver que jaz insepulto
Dele a história e o que fez não se esquece
Que não fiquem em vão tantas preces
Que o carrasco não ganhe indulto

Por juízes passou a sentença
Mas a História produz seu ensejo
No Brasil condenados não vejo
Mas a dor não me sai da lembrança

Que de muitos se lembre a História
Das torturas, martírios, degredos
Que não haja mais nenhum segredo
Que das trevas desponte a memória

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