CÂMARA DO DF CASSARÁ 3 PARA EVITAR INTERVENÇÃO

Arruda: o rei do panetone


Reportagem de Eugênia Lopes

Para tentar evitar a intervenção federal no governo do Distrito Federal, a Câmara Legislativa está decidida a cassar o mandato de pelo menos três dos oito deputados distritais envolvidos no escândalo do "mensalão do DEM". A tendência é que o corregedor da Câmara, Raimundo Ribeiro (PSDB), recomende a abertura de processo por falta de decoro parlamentar contra os três deputados - Leonardo Prudente (ex-DEM, sem partido), Eurídes Brito (PMDB) e Júnior Brunelli (PSC) - filmados recebendo maços de dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa.

Ao mesmo tempo, os deputados distritais decidiram aprovar a abertura de processo de impeachment contra o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM). Preso desde quinta-feira na Polícia Federal, Arruda perdeu a base de apoio na Câmara, que deverá aprovar amanhã, na Comissão de Constituição e Justiça, o andamento de um dos três pedidos de cassação de seu mandato.

Fiel aliado de Arruda, o deputado Batista das Cooperativas (PRP), relator dos pedidos de impeachment na CCJ, já anunciou que seu parecer é pela admissibilidade da abertura do processo. A decisão de entregar a cabeça de Arruda foi tomada pelos distritais na sexta-feira, também como uma tentativa de evitar a intervenção federal.

RELATÓRIO

O corregedor Raimundo Ribeiro pretende apresentar seu relatório com os pedidos de cassação do mandato dos envolvidos no escândalo revelado pela Operação Caixa de Pandora no início da próxima semana. Amanhã, ele vai discutir com os colegas de Câmara a situação de cada um dos envolvidos. "O que posso dizer é que são situações diferentes entre quem aparece nos vídeos e quem é citado. Mas não posso dizer se são situações mais graves porque aí estaria entrando no mérito", disse.

Prudente, Eurídes e Brunelli foram filmados por Barbosa recebendo maços de dinheiro. Prudente aparece nos vídeos guardando as notas nos bolsos do paletó e até nas meias. Eurídes joga para dentro da bolsa vários pacotes de dinheiro, enquanto Brunelli ficou conhecido como o autor da "oração da propina", em que aparece abraçado com Prudente e Barbosa agradecendo e rezando pela vida do ex-secretário. Os outros cinco parlamentares são citados em conversas como beneficiários do suposto esquema de pagamento de propina. "Agora, com a prisão do Arruda, não sinto mais clima de pizza", resumiu ontem o deputado Chico Leite (PT).

O motivo para a mudança de posição da base aliada de Arruda, que tinha 19 do total de 24 deputados distritais, é a ameaça de intervenção federal no governo de Brasília. "Os parlamentares sabem que, se não cortarem na própria carne, haverá essa intervenção", argumentou o líder do PT na Câmara, Paulo Tadeu. "A Câmara não terá moral para discutir o impeachment do Arruda se não cassar o mandato dos distritais envolvidos no escândalo."

Depois de aprovar a abertura de impeachment contra Arruda, os deputados se reúnem amanhã para discutir também o futuro de Paulo Octávio. Parte da base é a favor da abertura de processo contra ele simultaneamente ao de Arruda, e parte é contra.

Paulo Octávio deve ser recebido hoje pelo presidente Luiz Inácio da Silva no Centro Cultural do Banco do Brasil, a sede provisória do governo federal durante a reforma do Palácio do Planalto.

PRISÃO

Após receber a visita da sua mulher Flávia Arruda, que deixou a Superintendência da PF por volta das 20 horas, o governador afastado do Distrito Federal foi homenageado por um grupo de cinco amigos que usava um megafone.

Ao ouvir gritos de apoio e solidariedade, Arruda abriu uma fresta da persiana para ver os amigos quando cantavam Segura na Mão de Deus e, depois, quando Vicente de Paulo, que trabalha na Secretaria de Governo do GDF, avisou pelo megafone que estava ali para apoiá-lo. "Tudo passará" e "estamos lhe esperando em 2014", gritou. O advogado Thiago Bouza também visitou Arruda ontem.


Fonte: jornal O Estado de São Paulo - 17/02/2010

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