Frágeis democracias



Por Jeferson Malaguti Soares *

Lendo a entrevista que Georges Simenon - quando ainda não era um escritor francês famoso - fez com Leon Trótski em 1933, por ocasião do exílio deste nas ilhas Prínkipo (Príncipe) em Istambul, Turquia, entrevista esta publicada no livro  “Zen Socialismo” da blogueira Cynara Menezes (Editora Geração - 2015), pude perceber e entender porque democracias se transformam tão facilmente em ditaduras. Principalmente democracias frágeis como a nossa. 

Conosco este fenômeno ocorre desde a Proclamação da República, que nada mais foi que um duro golpe na Monarquia em represália à Abolição da Escravatura. Passou por Getúlio Vargas, pelos militares de 64 e agora deságua no catastrófico “governo” golpista, corrupto e ilegítimo do “vampiro“ Michel Miguel Elias Temer Lulia, o Mimi. 

Não por simples coincidência nem por destino, ele é o terceiro vice-presidente da República de seu partido, o PMDB, que chega à Presidência sem ter sido eleito. Os outros dois foram José Sarney, após a morte de Tancredo, e Itamar Franco, após o impedimento de Fernando Collor. No caso de Sarney e Itamar podemos dizer que foi obra do inesperado. Já no caso atual que nos assola, foi obra de criminosos. Mas isto é outra história, que acredito os livros de história não vão contar com toda a verdade.

Falava eu da fragilidade das democracias. Todas as democracias. Ou vocês acreditam que os EUA são a maior democracia do mundo? Acreditam que lá existe democracia pura? Não existe. Nem o sistema eleitoral deles é democrático. Vejam, por exemplo, que George Walker Bush não recebeu a maioria dos votos populares. No entanto, como obteve mais votos que seu concorrente em estados que contavam com maior número de  delegados ao pleito, foi eleito. Quem elege presidente por lá são os delegados estaduais. O povo é apenas coadjuvante. E é claro que esses delegados são escolhidos pela população local, não sem antes haver interferência furtiva do meio empresarial. O que manda por lá é o capital. E onde o capital é mais importante que a vontade das pessoas, certamente não há democracia, ou ela é capenga, carece de formosura e de solidez. Agora, se lá não há, imaginem por aqui. 

Somos um país cheio de contradições sociais, e é sabido que as instituições democráticas sucumbem ante a pressão das contradições. Pior que as contradições internas que vivenciamos desde 1500, são aquelas que nos são impostas de fora, por governos de países que nos enxergam apenas como riqueza em potencial e não como seres humanos. Desestabilizam nossa economia, e com ela nossa democracia. Em última análise, são as considerações materiais que decidem interesses econômicos e robustecem a agenda militar. 

Nossa frágil democracia foi engolida pelo regime fascista de uma quadrilha de malfeitores que se apoderou da República. O fascismo acontece sempre que há uma crise econômica mundial, que devora sem piedade os países mais pobres, enquanto os grandes procuram se equilibrar exatamente sobre os menos favorecidos. Assim acontece também com as classes e os agrupamentos sociais. Quem tem mais pisa nos que têm menos. Foi assim que Michel Temer foi usado pelos ricos e poderosos do país no intuito de reconquistarem sua hegemonia frente a uma popularização inaceitável da economia e da sociedade brasileiras. 

Por trás disso tudo nos ronda a imponderável leveza de nossas riquezas. Vão se esvair na ganância de poder da burguesia brasileira, que as trocará pela garantia da manutenção de seu regime sórdido.

Frágil democracia esta nossa. Mais um duro golpe a coloca em nocaute. Vai se reerguer? 


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas, Secretário de Formação do PCdoB Ribeirão das Neves e colaborador deste blog.

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