Brasil irreal

Por Jeferson Malaguti Soares *

A imprensa brasileira está unida por detrás da realidade de nosso país. Não informa, deforma. Finge não ver o que todos estamos vendo. Mente, inventa, denigre, vilipendia, manipula a serviço de interesses criminosos de lesa-pátria. O universo midiático brasileiro retrata um Brasil irreal, transmite desinformações, trabalha e torce contra o país. Se estamos crescendo, nega. Se mais empregos são gerados, desconhece. Inflação controlada é ficção. Além disso, quer nos convencer de que a corrupção começou com o PT no poder, quando sabemos que o que começou com Lula, e Dilma deu continuidade, foi a limpeza.

Sebastião Nery, jornalista político, cultura vastíssima, observador e personagem da cena política brasileira há mais de 60 anos, engrandeceu a profissão que abraçou ainda muito jovem. Hoje, do alto de seus 84 anos, estilo peculiar que lhe rendeu processos, prisões, cassação de direitos políticos e perseguições, dá lição de jornalismo ético e respeito à história dos fatos. Dos seus quase vinte livros sobre política, tiro constantes lições, atualíssimas, às vezes polêmicas, mas sem sombra de dúvidas, de um jornalismo aprumado, correto, limpo e ético. 

É por Nery que ficamos sabendo que o golpe de 64 nada teve de repressão a um possível comunismo que poderia se instalar no país. O motivo real era a candidatura de JK em 65. Não queriam Juscelino novamente na presidência - se fosse candidato, certamente ganharia. E por que ele não poderia ser candidato em 65? Porque ele tinha cometido o pecado mortal dos povos submissos à obediência cega às ordens do Fundo Monetário Internacional - FMI, o verdadeiro leão de chácara dos EUA e do sistema financeiro internacional. Em 1959, JK, presidente, rompeu com o Fundo porque se negou a render-se às suas exigências que consistiam, entre outras medidas, em nos impor uma reforma cambial que facilitava a importação dos bens de capital ultrapassados dos EUA, fixar preços mais baixos para o nosso café, instituir um câmbio livre para todas as importações, incentivo ao comércio exterior, extinguir subsídios às aquisições de petróleo, trigo, papel e fertilizantes, e reduzir direitos trabalhistas. Os jornais desencadearam, então, uma campanha de descrédito da economia brasileira. 

Muito diferente de hoje? De jeito nenhum. Tudo muito igual. A UDN da direita civil e militar, hoje travestida de PSDB, DEM e PPS, continua atuando na mesma direção. Os governos populares de Lula e Dilma contrariam os interesses dos “investidores” estrangeiros. Na verdade “exploradores” de nossas riquezas e mão-de-obra. É preciso ficar atentos.

Nossa mídia irreal quer nos impor um Brasil irreal. Esperneia contra a regulação de sua atividade. Na verdade, ainda segundo Sebastião Nery em seu livro “Ninguém me Contou Eu Vi”, pag. 232, “quando Guttemberg inventou a primeira máquina de imprimir, acabou a liberdade de imprensa...” Hoje não existem jornais, revistas, rádios ou TV’s independentes. A mídia-empresa é um conflito e uma contradição com a mídia-liberdade. A mídia nacional e internacional só é poderosa na medida em que representa algum interesse. E não sobrevive sem o dinheiro da publicidade. Se o governo quiser, quebra as empresas midiáticas nacionais. Basta não mais postar nela sua publicidade. Os anúncios das empresas privadas ficarão tão caros que vai invibializar suas inserções. 

Lula e Dilma ainda não tinham feito isto, mas não foram poupados. Ninguém pediu para que se falasse bem do governo, como fez a ditadura militar, apenas se pedia que não inventassem, não publicassem mentiras, infâmias. Tiveram liberdade para mentir. Dilma agora acena com a possibilidade de regular o comportamento da mídia e é acusada de trabalhar contra a liberdade de imprensa. Regular não é censurar. É exigir responsabilidade pelo que é divulgado.

Caluniar, difamar e injuriar não são prerrogativas da liberdade de imprensa. Isto é crime. A direita, interessada em acabar de sucatear a nação, entregando para empresas estrangeiras nosso petróleo, não mede consequências para o país. Contra Getúlio usaram Carlos Lacerda e sua Tribuna da Imprensa. Contra Jango, os Diários Associados e a Globo. Contra Lula e Dilma usam toda a mídia nacional, escudada mais uma vez pelos interesses escusos da indústria capitalista mundial, de pensamento conservador. 

Não é o Brasil que é irreal, são as suas elites, capitaneadas pelos ricos empresários midiáticos, grupos políticos escanteados pela população, industriais subservientes ao capital estrangeiro, militares arrogantes, artistas “comprados” para tal e entidades invertebradas, rastejantes, escamoteadas com sutileza sob o manto de “institutos de estudo da realidade nacional” ou através de organizações não governamentais, todos de extrema direita e de orientação neoliberal. O mesmo sistema econômico que está levando o caos aos países da Europa e aos próprios EUA, caos este que atravessamos galhardamente com pequenos arranhões e marolinhas.

Como escreveu William Blake, poeta e tipógrafo inglês, morto em 1827: “a imprensa não é para servir aos governos, mas aos governados. Quando a imprensa não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo”. E eu modestamente completo: quando a imprensa mente, engana o povo por um determinado tempo, mas não por todo o tempo.


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Esportes na Prefeitura de Ribeirão das Neves, administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

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