A mídia que assusta

Por Jeferson Malaguti Soares*

Estou assustado com a mídia nacional. O universo midiático brasileiro perdeu o senso da medida e do ridículo. A agressividade dos órgãos da imprensa ficou de tal forma exposta que está transformando o Brasil no país do absurdo, onde os tribunais passaram de templos da justiça a esgoto de golpistas ensandecidos e onde a democracia é como chiclete que anda na boca de qualquer um, no afã de redesenhá-la.

Acompanho eleições há meio século e nunca presenciei tamanho cinismo e descaramento. Nossa mídia tem lado e só enxerga o lado no qual quer bater. Mentiras, hipocrisias, invenções, sordidez, pontuaram e pontuam as edições de nossa imprensa. 

Liberdade de imprensa não é ter o direito de mentir, caluniar, acusar sem provas, injuriar, depreciar e desacreditar pessoas, difamar, detratar, deslustrar alguém, maldizer, vexar, vituperar, ultrajar, conspurcar ou desmerecer quem quer que seja. Isso é crime.

Precisamos de um marco regulador da mídia com urgência. Regular não é tirar a liberdade. É fazer com que a imprensa seja responsável pelo que fala ou escreve. Responsável pelos seus atos. A injúria e a calúnia hão de ter consequências. Quanto à mentira, há que se exigir retratação de quem a publica.

Os desvios na condução das notícias na mídia brasileira adquiriram uma dimensão antiética. Servil ao capital e farsante, nossa imprensa aposta na adulteração da notícia a fim de manipular o leitor/telespectador/ouvinte. Jornalistas não têm compromisso com a imprescindibilidade da isenção na cobertura dos fatos, nem mesmo com a liberdade de expressão, haja vista reproduzem exclusivamente o pensamento dos patrões. Tivesse eu, hoje, de escolher uma profissão, certamente não seria a de jornalista. Ela está prostituída.

Jornalismo, aquele que se aprende nas universidades, estimula realizações críticas, apartidárias e pluralistas, que adota atitude de independência em face de grupos de poder, que não trata notícias e ideias apenas como mercadorias, que busca sempre uma relação de transparência com a opinião pública, que estimula o diálogo, a difusão de novas tendências e seu próprio desenvolvimento, rigorosamente, não é este o que vemos no universo midiático nacional nos dias de hoje.

O que vemos hoje são órgãos atrelados a grupos, tendências ideológicas e partidos políticos, sintomaticamente de direita. Censuram seus jornalistas, editando tendenciosamente suas reportagens. Participam de campanhas para desacreditar pessoas e se curvam a interesses particulares de determinado partido político de matiz ideológico claramente neoliberal. Estão engajados em verdadeiras organizações político-ideológicas conservadoras.

Arbitrários e retrógados, abusam do direito que se dão para desinformar. Antiéticos, atuam na ilegalidade. Trabalham contra o Brasil, atrelados ao capitalismo internacional, que deseja manter nosso país na posição de colônia exportadora de matérias-primas e importadora de produtos industriais, e que cobiça nosso petróleo e nossas riquezas.

No jornalismo atual não existe objetividade. Os assuntos são influenciados pela posição pessoal, hábitos e emoções do proprietário do órgão. Jornalismo apático e desinteressado dos programas sociais e dos desassistidos da nação.

Numa sociedade complexa como a nossa, todo fato se presta a interpretações múltiplas, quando não, antagônicas. No entanto, o que presenciamos é uma única tendência ideológica representada nos meios de comunicação: o conservadorismo arbitrário, burguês, tradicionalista e neoliberal.

O comportamento da nossa imprensa está definitivamente registrado nos anais da história das nossas insanidades cívicas.

Atrás de cada dono de jornal, rádio ou TV, há sempre dois burgueses ricos empurrando.

A mídia e a direita deste país fritaram o ovo da incúria. Vão ter de comê-lo ou jogá-lo fora. “Desfritá-lo” é impossível. 

A história recente da mídia brasileira será contada a partir de suas palavras, escritas ou faladas. Crônicas do ódio, da violência, da truculência, da tirania, da irresponsabilidade e da falta de ética. História que envergonha.


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Esportes na Prefeitura de Ribeirão das Neves, administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

Comentários