Valeu, Lula!


Por Cléber Sérgio de Seixas

O ano não poderia terminar melhor: vitória de Dilma e o governo Lula com aprovação recorde. Pesquisa da CNT/Sensus recém-divulgada (clique aqui para ver a pesquisa) aponta uma avaliação positiva do governo por 83,4% dos brasileiros.

Fonte: CNT/Sensus

Lembro-me de 1989, quando Lula foi derrotado por Fernando Collor, ou melhor, sua candidatura ruiu juntamente com o Muro de Berlim. No fim dos anos 80, a tese do “triunfo” do capitalismo era apregoada pela direita. Naquele tempo era compreensível o desdém por candidatos de esquerda, haja vista que, aparentemente, o socialismo já jazia sob a última pá de cal, conseqüência direta do desmantelamento de seu maior bastião: a União Soviética.

Deve-se destacar, também, o papel que a imprensa tupiniquim exerceu sobre os corações e mentes dos brasileiros durante aquele processo eleitoral. Collor era apresentado como o “caçador de marajás”, um Dom Sebastião que tiraria o país das lamas da corrupção. No fim das contas, foram exatamente denúncias de corrupção que apearam o alagoano do poder. Lula, por outro lado, era apresentado como o representante do atraso, do radicalismo, do ateísmo e de uma ideologia superada.

No entanto, o petista não desistiu. Concorreu com Fernando Henrique Cardoso por dois mandatos. No primeiro, foi derrotado pelo Plano Real, cuja criação foi sagaz e desonestamente atribuída ao candidato tucano pela grande mídia. No segundo, os temores dos brasileiros por mudança reconduziram FHC ao Planalto.

Paralelamente à gestão tucana, Lula percorria o país do Oiapoque ao Chuí nas Caravanas da Cidadania. Tal experiência seria de suma importância para sua conscientização a respeito das necessidades do povo deste grande país.

Os oito anos do neoliberalismo à moda FHC quebraram o país várias vezes, com direito a racionamento de energia, vulgo “apagão”, nos anos finais do segundo mandato. Um avassalador processo de privatizações vendeu parte do patrimônio público e estatal a preços de banana. O desemprego campeava. Os movimentos sociais eram demonizados e perseguidos. Diante de tal cenário, o povo brasileiro, a grande vítima das políticas neoliberais, resolveu votar num candidato à sua imagem e semelhança.

A vitória de Lula em 2002 resultou do agravamento da questão social nos dois mandatos de FHC e do movimento social que se articulava há 40 anos no país, cujas raízes provinham das várias vertentes de resistência à ditadura militar, da anistiada intelectualidade de esquerda, do sindicalismo renovado e das comunidades eclesiais de base. É claro que houve uma ajudinha do marketing eleitoral, responsável por transformar o sapo barbudo no “Lulinha paz e amor”. Também convém citar o heterodoxo leque de alianças partidárias avesso aos princípios que sempre nortearam o PT.

No poder, Lula não implantou o socialismo por decreto. Pelo contrário, tratou de modernizar nosso capitalismo, tal qual fizera Getúlio Vargas. Conseguiu trazer à realidade o sonho de Celso Furtado de aliar justiça social e democratização ao desenvolvimento. A diferença entre Getúlio e Lula é que o governo do último nunca cooptou sindicatos, calou ou assassinou desafetos ou tentou amordaçar a imprensa.

Aliás, a imprensa foi o grande adversário de Lula nesses oito anos, um adversário desleal, que nunca hesitou em desferir golpes abaixo da cintura. Em virtude de sua origem humilde, desde o início do mandato, Lula foi tratado como bêbado, despreparado para o cargo, semi-analfabeto e por fim como vagabundo e picareta por um certo comediante. Na ausência de um projeto alternativo para o Brasil por parte dos partidos contrários ao governo, a grande imprensa assumiu o protagonismo na oposição. Foi nesse contexto que o deputado Fernando Ferro (PT) cunhou o termo PIG (Partido da Imprensa Golpista).

A mídia foi incansável em ridicularizar o presidente

No papel de partido de oposição, o PIG, articulou ataques em várias frentes, fustigando o governo na internet, nos jornalões, no rádio e na TV. Nunca na história deste país um presidente foi tão atacado pela imprensa. Nem Vargas sofrera tantos ataques como Lula. O auge das investidas da mídia veio por conta do que ficou conhecido como “mensalão”. Até hoje não comprovado, o suposto esquema quase tirou de Lula a vitória em 2006.

Reeleito, Lula manteve os programas sociais de transferência de renda e anunciou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Na política econômica fortaleceu o mercado de consumo interno, garantiu que a tsunami da crise econômica norte-americana de 2008 chegasse aqui como uma marolinha, inseriu cerca de 30 milhões de brasileiros na classe média e arrancou outros 20 milhões da pobreza. Atualmente 94,9 milhões de brasileiros estão na classe média, ou seja, 50,5% da população.

A despeito do grande crescimento econômico, os escândalos envolvendo o governo federal, factóides na maior parte das vezes, seguiam ao sabor do não declarado engajamento dos barões da mídia contra a administração petista.

Em 2009, o discurso da grande mídia era que Lula não faria sucessor, a exemplo do que havia ocorrido no Chile com Michelle Bachelet. Tão logo Dilma Rousseff foi anunciada candidata à presidência, a mídia tratou de intensificar a desconstrução de sua imagem. Até a vitória de Dilma, o que se viu foi um posicionamento da mídia francamente contrário a sua candidatura, em proporções nunca antes imaginadas. Apesar dos esforços - eufemismo para boataria, jornalismo de baixíssima qualidade, factóides e mentiras sem fim – a direta e seu partido foram derrotados. Contrariando os interesses de uma minoria abastada, chamada de elite por muitos, amanhã Dilma receberá a faixa presidencial das mãos de Lula, fato duplamente inédito na história desse país.

Tal evento coroará a trajetória desse brasileiro cuja família abandonou o nordeste para tentar a sorte na cidade mais desenvolvida do país. Até tornar-se um político renomado, Lula experimentou muitos dos sofrimentos por que passam milhões de brasileiros pobres. Em seu livro A Mosca Azul, Frei Betto assim resume a trajetória de Lula:
“Lula deve muito à pessoa que mais admira: dona Lindu (Eurídice Ferreira de Melo), sua mãe, falecida em 1980, quando se encontrava preso. Herdou-lhe a persistência e o orgulho de preservar a dignidade, ainda que em cima de um caminhão pau-de-arara, no qual a família viajou 13 dias, de Garanhuns (PE) a São Paulo, em 1952. Ou morando nos fundos de um bar, em quarto apertado, obrigado a usar o mesmo banheiro aberto aos fregueses. Ele traz no rosto o traço da indignação. Ficou marcado pela fome; o trabalho infantil como vendedor ambulante, na Baixada Santista; o desaponto ao reencontrar o pai com outra mulher e filhos; a humilhação de ser barrado num cinema por não vestir paletó; a labuta noturna, que lhe custou o dedo mindinho da mão esquerda; a morte, num hospital, da primeira mulher e do bebê que ela trazia no ventre, porque pobre não conta para o sistema público de saúde”.
Este que vos escreve, ex-bolsista do PROUNI, só tem a agradecer ao maior presidente da história deste país, tal como tantos outros de brasileiros pobres. Mudanças mais estruturais (reforma agrária, política, educacional, eleitoral etc) ainda aguardam para serem efetivadas, mas um grande passo foi dado sob a gestão Lula.

Seu legado durará por muitos anos. Esperamos que a presidente Dilma lhe siga os passos.

Valeu, Lula!



Comentários

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Atuação de Governo.
Como dizia o Ex-Presidente Lula: "O olho do dono é que engorda o gado".
Nada mais justo,até pelo cargo que ocupa, que o Vice-Governador e Secretário de Obras, "Pezão", esteja á frente do batalhão de recuperação das Cidades atingidas,não?!
A população estranha quando políticos atuam nos estritos limites de seus cargos e desempenham as funções inerente a eles!!
Grosso modo, fazem exatamente o contrário: Esquivam-se de situações espinhosas e delegam a outrem suas funções!!
A População deve cobrar!!