Dilma, Cuba e os direitos humanos
Prisioneiros da base naval de Guantánamo
Por Cléber Sérgio de Seixas
Em visita a Cuba na última terça-feira (31/01), a Presidente Dilma Rousseff disse que o tema direitos humanos não deveria ser discutido de forma unilateral. “Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político-ideológico”, disse a Presidente. “Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós no Brasil temos o nosso. Então eu não concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral”, acrescentou.
Dilma está certa. Um dos telhados de vidro tupiniquins no âmbito dos direitos humanos foi o episódio Pinheirinho, prova cabal de que estamos retroagindo aos tempos em que a pobreza era tratada como caso de polícia. Enquanto a justiça federal tentava negociar uma saída para o imbróglio, a justiça paulista passou feito um rolo compressor sobre as vidas e esperanças dos moradores da comunidade localizada na cidade de São José dos Campos, São Paulo. No Pinheirinho a pobreza foi criminalizada e os pobres moradores foram acordados, na fatídica madrugada de domingo, 22 de janeiro, aos gritos de “levanta, vagabundo!”. É a volta da política do coturno: a que bate primeiro e depois pede os documentos.
Se a intenção é falar de violação de direitos humanos em Cuba, deve-se, primeiro, mencionar a base naval de Guantánamo, onde prisioneiros estão detidos há anos sem julgamento e sofrendo maus tratos indizíveis. Guantánamo é utilizada desde 2002 pelos Estados Unidos para manter suspeitos de envolvimentos com atos de terrorismo. Em 2011 o Wikileaks divulgou documentos que provavam que mais da metade dos presos da base eram inocentes e que a prática de tortura é algo comum nos interrogatórios, sendo o waterboarding uma das mais utilizadas técnicas de suplício.
A dirigente brasileira mostrou a que veio e contrariou as expectativas daqueles que a aguardavam com pedras na mão para atirar sobre Cuba. No lugar de condenar o regime cubano, Dilma lembrou que a contribuição que o Brasil poderia dar seria ajudando a desenvolver o processo de crescimento econômico do país caribenho, através de políticas de auxílio para a compra e produção de alimentos, e na ampliação e modernização do Porto de Mariel.
Na entrevista que concedeu a um pequeno grupo de repórteres, ela não tergiversou ao afirmar que se orgulhava de estar em Cuba, de ter ido ao último Fórum Social Mundial, de ter participado do encontro do G20 no ano passado, de ter conversado com o presidente chinês Hu Jintao, de ter se encontrado com o mandatário russo Dmitri Medvedev, de ter ido à África do Sul e, por fim, de se encontrar com Fidel Castro.
Como última pá de cal sobre as expectativas da mídia direitista e sobre os anseios das comunidades anticastristas de Miami e do governo dos Estados Unidos, Dilma afirmou, em relação à farsa que responde pelo nome de Yoane Sánchez, que o Brasil já concedeu visto à blogueira e os demais passos não são da competência brasileira. Não é necessário muito esforço intelectual para concluir que a imprensa conservadora vai cair de pau em cima da Presidenta por conta destas e outras declarações.
Aproveitando o ensejo da visita de Dilma a Cuba, é importante pontuar que há mais de quatorze anos os EUA mantém detidos cinco prisioneiros cubanos, a saber: Tony Guerrero, Fernando González, Ramón Labañino, Gerardo Hernández e René Gonzalez. Os Cinco, como são conhecidos, faziam parte da Rede Vespa, cuja missão era monitorar as operações de organizações anticastristas da Flórida e repassar as informações a Havana, de forma a impedir que os terroristas de Miami arquitetassem atentados em solo cubano, especificamente em estabelecimentos ligados à indústria do turismo - última tábua de salvação da economia cubana depois da derrocada da União Soviética no início dos anos 90.
De fato, a atuação dos agentes da Rede Vespa conseguiu evitar vários atentados em Cuba. Presos em 1998, os agentes da Rede Vespa foram submetidos a julgamento em 11 de dezembro de 2001. Alguns aceitaram entrar num programa de delação premiada em troca diminuição da pena; outros, como Os Cinco, não aceitaram negociar. O caso mais grave é o de Gerardo Hernández, apelidado Giro, condenado a duas prisões perpétuas mais quinze anos de reclusão. É bom lembrar que desde outubro de 2001 agentes americanos em solo afegão faziam exatamente o mesmo que os cinco cubanos faziam em Miami, ou seja, identificavam terroristas com o intuito de prevenir atentados. Até o momento, no entanto, não se tem notícia de que nenhum James Bond estadunidense tenha sido condenado a prisão perpétua por atos de contraespionagem.
A mídia silencia sobre o tratamento dado aos cinco prisioneiros cubanos presos nos Estados Unidos e sobre os encarcerados em Guantánamo, enquanto escancara os microfones e faz incidir as luzes de seus holofotes sobre a questão dos direitos humanos na pequena ilha caribenha, como se Cuba fosse o bastião mundial das violações aos direitos humanos.
A entrevista de Dilma colocou o guizo no rabo do gato e mostrou que direitos humanos devem ser discutidos em vários países, incluindo Brasil e Estados Unidos. O regime cubano tem seus erros, bem menores que os acertos, diga-se de passagem, e, afinal, qual país poderia estampar esta frase num outdoor: “essa noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua, nenhuma delas é cubana”? Enquanto em Cuba, por exemplo, praticamente não existe população de rua, no Brasil, sobretudo depois do episódio Pinheirinho, o percentual de desabrigados tende a aumentar.
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Dilma está certa. Um dos telhados de vidro tupiniquins no âmbito dos direitos humanos foi o episódio Pinheirinho, prova cabal de que estamos retroagindo aos tempos em que a pobreza era tratada como caso de polícia. Enquanto a justiça federal tentava negociar uma saída para o imbróglio, a justiça paulista passou feito um rolo compressor sobre as vidas e esperanças dos moradores da comunidade localizada na cidade de São José dos Campos, São Paulo. No Pinheirinho a pobreza foi criminalizada e os pobres moradores foram acordados, na fatídica madrugada de domingo, 22 de janeiro, aos gritos de “levanta, vagabundo!”. É a volta da política do coturno: a que bate primeiro e depois pede os documentos.
Se a intenção é falar de violação de direitos humanos em Cuba, deve-se, primeiro, mencionar a base naval de Guantánamo, onde prisioneiros estão detidos há anos sem julgamento e sofrendo maus tratos indizíveis. Guantánamo é utilizada desde 2002 pelos Estados Unidos para manter suspeitos de envolvimentos com atos de terrorismo. Em 2011 o Wikileaks divulgou documentos que provavam que mais da metade dos presos da base eram inocentes e que a prática de tortura é algo comum nos interrogatórios, sendo o waterboarding uma das mais utilizadas técnicas de suplício.
A dirigente brasileira mostrou a que veio e contrariou as expectativas daqueles que a aguardavam com pedras na mão para atirar sobre Cuba. No lugar de condenar o regime cubano, Dilma lembrou que a contribuição que o Brasil poderia dar seria ajudando a desenvolver o processo de crescimento econômico do país caribenho, através de políticas de auxílio para a compra e produção de alimentos, e na ampliação e modernização do Porto de Mariel.
Na entrevista que concedeu a um pequeno grupo de repórteres, ela não tergiversou ao afirmar que se orgulhava de estar em Cuba, de ter ido ao último Fórum Social Mundial, de ter participado do encontro do G20 no ano passado, de ter conversado com o presidente chinês Hu Jintao, de ter se encontrado com o mandatário russo Dmitri Medvedev, de ter ido à África do Sul e, por fim, de se encontrar com Fidel Castro.
Como última pá de cal sobre as expectativas da mídia direitista e sobre os anseios das comunidades anticastristas de Miami e do governo dos Estados Unidos, Dilma afirmou, em relação à farsa que responde pelo nome de Yoane Sánchez, que o Brasil já concedeu visto à blogueira e os demais passos não são da competência brasileira. Não é necessário muito esforço intelectual para concluir que a imprensa conservadora vai cair de pau em cima da Presidenta por conta destas e outras declarações.
Aproveitando o ensejo da visita de Dilma a Cuba, é importante pontuar que há mais de quatorze anos os EUA mantém detidos cinco prisioneiros cubanos, a saber: Tony Guerrero, Fernando González, Ramón Labañino, Gerardo Hernández e René Gonzalez. Os Cinco, como são conhecidos, faziam parte da Rede Vespa, cuja missão era monitorar as operações de organizações anticastristas da Flórida e repassar as informações a Havana, de forma a impedir que os terroristas de Miami arquitetassem atentados em solo cubano, especificamente em estabelecimentos ligados à indústria do turismo - última tábua de salvação da economia cubana depois da derrocada da União Soviética no início dos anos 90.
De fato, a atuação dos agentes da Rede Vespa conseguiu evitar vários atentados em Cuba. Presos em 1998, os agentes da Rede Vespa foram submetidos a julgamento em 11 de dezembro de 2001. Alguns aceitaram entrar num programa de delação premiada em troca diminuição da pena; outros, como Os Cinco, não aceitaram negociar. O caso mais grave é o de Gerardo Hernández, apelidado Giro, condenado a duas prisões perpétuas mais quinze anos de reclusão. É bom lembrar que desde outubro de 2001 agentes americanos em solo afegão faziam exatamente o mesmo que os cinco cubanos faziam em Miami, ou seja, identificavam terroristas com o intuito de prevenir atentados. Até o momento, no entanto, não se tem notícia de que nenhum James Bond estadunidense tenha sido condenado a prisão perpétua por atos de contraespionagem.
A mídia silencia sobre o tratamento dado aos cinco prisioneiros cubanos presos nos Estados Unidos e sobre os encarcerados em Guantánamo, enquanto escancara os microfones e faz incidir as luzes de seus holofotes sobre a questão dos direitos humanos na pequena ilha caribenha, como se Cuba fosse o bastião mundial das violações aos direitos humanos.
A entrevista de Dilma colocou o guizo no rabo do gato e mostrou que direitos humanos devem ser discutidos em vários países, incluindo Brasil e Estados Unidos. O regime cubano tem seus erros, bem menores que os acertos, diga-se de passagem, e, afinal, qual país poderia estampar esta frase num outdoor: “essa noite 200 milhões de crianças vão dormir na rua, nenhuma delas é cubana”? Enquanto em Cuba, por exemplo, praticamente não existe população de rua, no Brasil, sobretudo depois do episódio Pinheirinho, o percentual de desabrigados tende a aumentar.
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