O conluio contra a democracia



Por Jeferson Malaguti Soares

Tiveram papéis preponderantes na eleição de Jair Bolsonaro não só ricos empresários, interessados na quebra dos direitos trabalhistas, nem só a mídia golpista de olho no bolo das propagandas do governo, mas também líderes religiosos. De um lado a Renovação Carismática Católica, mais conhecida pela sigla RCC, e do outro as Igrejas Protestantes, ditas Evangélicas. 

A RCC foi criada nos EUA na década de 1960, e apoiou todos os golpes de estado praticados nas Américas Latina e Central e no Caribe desde então, atendendo aos interesses dos governos daquele país. A cereja no bolo foi a eleição de Bolsonaro, em conluio com Igrejas Protestantes, ditas Evangélicas. Os EUA sabiam que para derrotar a esquerda na América Latina era muito importante derrotar primeiro os brasileiros. Em seguida vão cair Venezuela e Bolívia. O petróleo e o gás ditam as ações criminosas dos estadunidenses pelo mundo desde 1945. Aqui no Brasil a RCC teve início em Campinas/SP e espalhou rapidamente pelo sul e sudeste. Padres como Fábio de Melo, Marcelo Rossi, Joãozinho, Zezinho, Reginaldo e vários outros, além de bispos de dioceses importantes como as de São Paulo, Porto Alegre, Bahia e Belo Horizonte, são hoje ícones dessa facção da Igreja Católica Apostólica Romana, que se imiscuíram na política através, principalmente, da música, e hoje  disseminam o ódio ao PT. 

Baseado em que esse ódio? Duas frentes: aborto e comunismo. Fecham os olhos para as filhas e esposas dos ricos e criminalizam as dos pobres. Nenhum partido de esquerda prega a favor do aborto. Posicionam-se, sim, contra a criminalização do aborto. O aborto em si já leva a um sofrimento espiritual e moral muito grande, criminalizar a mulher pela prática do aborto e fazê-la sofrer duas vezes. Clínicas sofisticadas praticam o aborto com preços exorbitantes, para atender a filhas e esposas de ricos empresários e industriais. As pobres morrem nas mãos de pessoas pouco habilitadas. Quanto ao comunismo, há muito deixou de ser uma ameaça às igrejas ou a cultos religiosos. Na verdade, o socialismo prega o bem coletivo através de ações de governo que privilegiem os mais necessitados. Isso, sim, pode consistir numa ameaça a algumas religiões que querem ter os pobres a seus pés, pois só assim elas têm como sobreviver. Os ricos só vão às igrejas quando em grande agonia e necessidade. Subjacente a esse discurso de ódio estão a hipocrisia e a dissimulação. 

O “bispo” Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus, se declarou a favor do aborto recentemente em um de seus cultos. Não falou sobre a descriminalização do aborto. Disse claramente ser a favor do aborto. E mesmo assim conseguiu que os fiéis de seus 12 mil templos votassem em peso contra o PT. Por que esse ódio? No caso de Macedo foi uma questão pessoal haja vista Fernando Haddad quando prefeito de São Paulo, ao cumprir a lei, exigiu que a Universal pagasse R$38 milhões de taxa de habite-se(2% sobre o valor declarado pela própria igreja para o “Templo de Salomão” que foi de R$1,9 bilhão de reais). Edir Macedo teve que doar um terreno para a Prefeitura naquele valor, em pagamento da taxa. Registre-se que as igrejas são isentas de impostos federais, mas não de taxas municipais.

De resto, grande parte das outras igrejas protestantes, ditas evangélicas, seguiram a Universal, na ânsia de se beneficiarem num pretenso “governo evangélico” de Bolsonaro, comboiadas por figurinhas carimbadas do mundo evangélico como Silas Malafaia, R.R. Soares, Valdemiro Santiago, Marcos Feliciano, Magno Malta, e outros de menor importância, mas muito importantes na divulgação de preconceitos e descaminhos.Todos esses religiosos estão muito afastados do verdadeiro cristianismo.

Enfim, como disse Luis Fernando Veríssimo, “o ódio ao PT venceu a democracia”. Locupletem-se agora com o novo governo de idéias fascistas, machistas, racistas, segregacionistas. Quem vai lucrar são os poderosos. Os ricos, a classe dominante, a casa grande. Os fiéis seguidores pobres de Carismáticos e Pastores Evangélicos vão continuar comendo o pão que o diabo amassou. Muito pior, vão perder seus direitos trabalhistas como 13º salário, férias, e aposentadoria. Mas, não importa não é? Importante foi tirar o PT: o PT do Bolsa Família, do Farmácia Popular, do Samu,  do Prouni, do Fiés, das Cotas para Negros nas universidades federais, enfim, o PT cujos governos concederam um pouco mais de dignidade ao povo brasileiro pobre e colocou o país na posição de sexta economia mundial. “Fora PT!” gritou-se entusiasticamente. Em breve estarão pedindo, famelicamente, para que o PT volte.