Dica cultural - o Brasil em franco retrocesso



Por Cléber Sérgio de Seixas

São inegáveis os avanços sociais proporcionados pelas gestões dos presidentes Lula e Dilma. Durante os 13 anos em que os governantes petistas estiveram no poder, cerca de 40 milhões de brasileiros foram arrancados da miséria. A mobilidade social foi possível graças a medidas como os aumentos reais do salário mínimo e por políticas de transferência de renda como o Bolsa Família, esta, aliás, ao contrário do que preconiza o senso comum, um mecanismo previsto por pensadores neoliberais. Políticas públicas como o PROUNI e as cotas raciais nas universidades públicas possibilitaram aos mais pobres maior acesso ao ensino superior. Brasileiros pobres passaram a ser mais vistos nas universidades, nos aeroportos, realizando viagens internacionais, consumindo produtos de maior valor agregado etc. 

A chegada dos presidentes petistas ao poder interrompeu um longo ciclo neoliberal que remontava ao governo Collor de Mello. Para Sader (2013) os governos Lula e Dilma, ao romperem em muitos aspectos com o modelo econômico da ditadura militar e dos governos neoliberais, promoveram uma inflexão marcante na evolução da formação social brasileira, colocando o Brasil na contramão das tendências mundiais. 

Por essas e outras, a reação conservadora não tardou a vir. Segundo o sociólogo Jessé de Souza (2017) o PT foi o único partido que diminuiu as distâncias sociais entre as classes no Brasil moderno, o que ajuda a entender porque a corrupção petista provoca tanto ódio, ao passo que a de outros partidos é encarada com tanta naturalidade. Uma prova da indignação seletiva com a corrupção deriva do fato de que não se vê mais nas ruas cidadãos vestidos de camisas amarelas da CBF protestando contra a corrupção depois da retirada do PT do governo federal. 

O golpe que retirou Dilma do Planalto em 2016 foi desfechado por uma elite tupiniquim - sempre alinhada como o capital transnacional - incomodada com a inclusão social promovida desde 2003 e que, caso prosseguisse, instauraria entre nós uma versão do welfare state. Além disso, motivaram o golpe circunstâncias geopolíticas como o protagonismo do Brasil na América do Sul, a formação dos BRIC’s, além da descoberta e exploração da camada Pré-Sal.

No intuito de comemorar os dois anos do governo Temer, o Planalto chegou a cogitar a utilização num evento do slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Desistiu após detectar a ambiguidade. O ato falho, no entanto, tem fundamento, sobretudo se consideradas as temerárias medidas do atual governo, a exemplo da Emenda Constitucional 95, que congela gastos públicos com saúde, educação e assistência social por 20 anos, além da Reforma Trabalhista, que na prática rasga a CLT. 

Sob Temer o Brasil dá um salto no abismo e regride bruscamente, sobretudo em termos econômicos e sociais. Tal regressão é a temática do documentário Brasil, o grande salto para trás (Brésil, Le grand Bond arrière - Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux – 2017), produzido pela TV pública franco-alemã Arté. 




Referências bibliográficas

SADER, Emir. A construção da hegemonia pós-neoliberal. In: ______(Org.). 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: FLACSO Brasil, 2013. p. 135-143.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

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