Dica cultural: além do Cidadão Kane


Roberto Marinho de braços dados com o último general da ditadura

Por Cléber Sérgio de Seixas

O Brasil é um país de singularidades. Uma delas reside na constatação de que em nenhum país do mundo existe uma concentração dos meios de comunicação em mãos de poucos indivíduos tão densa quanto a que aqui se verifica. Pouco mais de meia dúzia de famílias dominam o espectro eletromagnético e a mídia impressa tupiniquins e neles apregoam sua ideologia buscando, precipuamente, manter o status quo da classe social que representam. 

A mídia no Brasil já não é o quarto poder. Pela hegemonia que angariou durante décadas - nas quais se agigantou em função da inexistência de legislações de regulamentação, nos moldes das que já existem em nações mais desenvolvidas como o Reino Unido e os EUA – a mídia passou a ser o primeiro poder. Quando os partidos de oposição não têm propostas ou bandeiras a erguer contra governos populares, é comum serem municiados pela grande mídia, o verdadeiro partido de oposição na política brasileira contemporânea. 

Se a mídia é o maior partido de oposição aos governos populares, seu maior expoente é a Rede Globo. Já nos idos de 60, as Organizações Globo ocuparam o vácuo deixado pela bancarrota dos Diários Associados de Assis Chateubriand. O império Global de comunicação foi inseminado ainda nos anos JK, mas foi gestado e cevado pela ditadura que se instalou no poder no Brasil na primeira metade da década de 60. Sob o beneplácito dos militares, as Organizações Globo se transformaram num dos maiores conglomerados midiáticos do planeta. 

É hoje pacífico que a Globo em vários momentos valeu-se de sua influência sobre corações e mentes para pautar o debate político no Brasil. O exemplo mais notório disso foi a cobertura dada pelo Jornal Nacional de 14 de dezembro de 1989 ao debate entre Collor e Lula no segundo turno das eleições presidenciais daquele ano. A forma como a Globo cobriu o debate beneficiou Collor de Mello, o candidato preferido das elites naquele tempo. Três dias depois, Collor sagrar-se-ia vencedor naquela que fora a primeira eleição presidencial direta depois do fim da ditadura militar. 

Enquanto a Globo, festiva, sopra 50 velinhas, convém trazer à tona seu passado nebuloso. É o que faz, de forma brilhante, “Muito Além do Cidadão Kane”, documentário de 1993 dirigido pelo britânico Simon Hartog. Trata-se de uma obra proscrita no Brasil em função de manobras da emissora que fundamenta o enredo. A Internet, no entanto, tratou de retirar a película do ostracismo. 

Confira abaixo.


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